CONTOS GRELADOS
"Contos grelados". Gabriela Dyminski. Editora Meraki Publisher.
Gabriela Dyminski é uma observadora das miudezas do cotidiano e faz delas uma literatura que mergulha fundo nos sentimentos humanos, bons ou maus, com muita sensibilidade, ironia e irreverência. Homens e mulheres têm suas intenções reveladas sem o menor pudor pela autora, que usa a linguagem do dia a dia, seca, direta, com palavrões e romantismo se equilibrando em histórias com muito protagonismo feminino: "Agnes, muito sincera, apenas respirava ofegante e, obviamente, sem dizer nada, agarrou Fernando pela cabeça e colocou sua boca onde deveria estar desde o começo".
As personagens de Gabriela, tanto homens quanto mulheres, passam os perrengues do dia a dia comuns à grande maioria dos mortais, mas o que movimenta os enredos dos contos é a busca por algum tipo de compensação pelo sofrimento, como o caso da mulher que tem um dia horrível, mas repete a todo momento, como um mantra, que pelo menos ela deu carona de guarda-chuva para uma pessoa.
A maternindade é um dos temas mais presentes no livro, seja na relação de uma mãe com seu filho adolescente, esta espécie que "quando não tá comendo ou se masturbando, tá dormindo", ou no parto natural, que Gabriela descreve de forma detalhada, que apesar de não diminuir a grandeza do momento que é a geração de um vida, usa um linguajar que deixaria um poeta parnasiano ruborizado: "E aí the baby nasce, enrugadinho, melecado, com aquela cabecinha pontuda de alienígena. E você querendo saber se seu esforço valeu a pena: ´Tá respirando?´ e aí ouve o choro de quem respira pela primeira vez. Deve doer e ser assustador porque o choro só para quando você pluga a teta na boquinha do nenê".
A literatura de Gabriela Dyminski tem o cheiro das ruas, a convivência forçada nos meios de transporte e nos apartamentos, os altos e baixos de uma relação amorosa, que tanto podem se manifestar em uma fábula muito bem construída (Conto de fadas) ou no sexo feito nas dimensões nada confortáveis de um banheiro de bar (Um encontro muito gozado), são espaços tanto de opressão quanto de divertimento, onde as personagens desejam nada mais do que se situar neste mundo louco.