sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

MAIS DO MESMO VELHO E BOM SIDNEY SHELDON


(Publicado no caderno "Prosa & Verso", do jornal "O Globo", em 18 de dezembro de 2004)

Sem inovação, autor best-seller mostra que ainda sabe como entreter seus fiéis leitores

Quem tem medo do escuro?, de Sidney Sheldon. Tradução de Alves Calado. Editora Record, 378 páginas. R$ 39,90

Gostem ou não, quando se pensa em romances do tipo best-seller, o primeiro nome que surge é o de Sidney Sheldon. Não dá para ignorar um sujeito que vendeu mais de 300 milhões de livros, figura no Guiness como o escritor mais traduzido do planeta, ganhou prêmios importantes, como o Oscar (melhor roteirista), o Tony (teatro) e o Edgar Allan Poe (literatura policial e de mistério) e criou séries clássicas de TV, entre elas “Jeannie é um gênio” e “Casal 20”.

Autor de sucessos estrondosos como “O outro lado da meia-noite”, Sheldon estava há três anos sem publicar nenhuma obra inédita Volta à ativa com “Quem tem medo do escuro?”, um livro que não acrescenta nada de novo à sua carreira, mas que também não a diminui, mostrando que, para ele, uma fórmula de sucesso consagrada é igual a time que está ganhando. Não se mexe.

A trama segue o mesmo estilo de boa parte de seus livros anteriores. Um mistério logo no início, violência, erotismo dissimulado, uma grande corporação internacional envolvida em algo suspeito, policiais enigmáticos, mulheres perspicazes, frases convidativas nos finais dos capítulos e muitas reviravoltas. Ah, sim, e nenhuma, mas nenhuma sofisticação literária.

Provavelmente alguns dos mais de 300 milhões de leitores de Sidney Sheldon, ao lerem esta última frase, vão perguntar: “E daí?” Pois o que os seus leitores querem mesmo é se entreter e para isto o escritor não perdeu a mão. O livro prende a atenção do início ao fim, sem levantar questões metafísicas e existencialistas e passando longe de rebuscamentos literários.

“Ondas quentes batendo
numa praia de veludo”


A história começa com uma série de assassinatos em países diferentes e um laço comum entre eles: todas as vítimas trabalhavam para a mesma empresa, a tal grande corporação internacional, que lida com questões ambientais.

O mafioso Tony Altieri, “parecendo um sapo pálido e gordo dobrado sobre si mesmo”, é o principal suspeito, principalmente por ter sido levado ao banco dos réus pela pintora Diane Stevens, um das duas heroínas da história, com um “jeito saudável e honesto de garota comum”, descrição melhor do que muitas no texto, como a de um beijo cujas línguas “pareciam ondas quentes batendo suaves numa praia de veludo”.

Estes detalhes, no entanto, não tiram o interesse do livro, que a partir da metade se concentra na perseguição contra as duas personagens principais, movidas principalmente pelo pistoleiro Harry Flint e seu “eterno sorriso sádico” - protagonista, aliás, de um final para lá de absurdo.

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