A BOA FÓRMULA DO SUCESSO
(Publicado no caderno "Prosa & Verso", do jornal "O Globo", em 16 de abril de 2005)
Primeiro romance de Dan Brown já mostrava equilíbrio entre ação e informação
Fortaleza digital, de Dan Brown. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Editora Sextante, 336 páginas. R$ 29,90
A fórmula é a mesma, mas costuma dar certo. Sempre que um autor faz sucesso estrondoso com um livro, suas publicações anteriores vão na mesma onda e ele ganha uma espécie de toque de Midas literário. É o que acontece com o americano Dan Brown, autor do arrasa-quarteirão "O Código Da Vinci", o livro mais comentado e vendido dos últimos tempos, e que reaparece agora com "Fortaleza digital", seu primeiro romance, publicado em 1998.
Nem sempre escritores de sucesso sentem orgulho de seus primeiros livros e alguns até desconversam ou engasgam quando eles são mencionados. Dan Brown, no entanto, não tem do que se envergonhar de sua estréia literária. Embora possua alguns defeitos, o romance vai agradar aos milhões de leitores que ele ganhou com o “Código”. A trama é interessante, os personagens são bem desenvolvidos e o livro é bem escrito, principalmente nas cenas de ação, que acabariam se tornando um dos pontos fortes do seu estilo.
Exageros nos estereótipos
dos personagens
Aqui ele lida com códigos, mas não de uma forma tão artística quanto no seu livro mais famoso. O enredo se passa principalmente no Departamento de Criptografia da poderosa Agência de Segurança Nacional, o órgão responsável pelo armazenamento de todos os segredos de Estado da maior potência do mundo. Não é preciso ser nenhum especialista em informática para saber que invadir os seus arquivos é o sonho de qualquer hacker, que venderia as informações por uma fortuna para governos inimigos ou grupos terroristas, traficantes de drogas e outros “eixos do Mal”.
É aí que surge a tal fortaleza digital do título, um superprograma impossível de ser decifrado pelo poderoso computador do departamento e cujo segredo, se cair em mãos erradas, pode resultar num caos completo para o governo americano. Os segredos do programa, criado por um japonês (como não poderia deixar de ser), parecem estar contidos num anel e a busca pelo precioso objeto vai ocupar a maior parte do romance.
Mas Brown mostra que já dominava uma técnica muito comum em autores de best-sellers americanos, geralmente aqueles que costumam ser adaptados para o cinema em filmes de orçamentos estratosféricos. Ele dilui a trama em outros ambientes e grupos de personagens e cria novas áreas de interesse, sempre deixando um gancho para os capítulos seguintes. No fim das contas, o leitor acaba atravessando as mais de 300 páginas do livro sem se dar muita conta.
O autor só exagera mesmo em alguns estereótipos, como o do tal japonês "fera" em informática; o programador Greg Hale, que por ser ex-fuzileiro é um autêntico troglodita; o gênio da informática conhecido como Jabba, gigantesco de gordo, que só come fast-food e só pensa em cabos e conexões, e mesmo a protagonista, Susan Fletcher, cuja intuição nunca falha, e seu namorado, David, um professor de línguas incapaz de fazer uma conta de oito vezes oito. Além disso, algumas coincidências absurdas, como na hora da perseguição a David, complementam os pontos fracos do livro.
Nada, no entanto, que incomode tanto. As próprias explicações sobre a origem da criptografia, na época de Júlio César, ou sobre o desenvolvimento e a diversidade das mensagens cifradas não atrapalham a trama e acabam servindo como uma boa reserva para conversas de mesa de bar, como tantas informações (algumas totalmente inúteis, é verdade) que existem no “Código”.
Histórias por trás das
verdades incontestáveis
Curiosidades como a Enigma, a máquina de criptografia criada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial e considerada superavançada para a época, ou o desenvolvimento da internet, um sistema criado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e que acabou caindo em domínio público no início dos anos 90, já servem para alimentar boa parte do romance, assim como especular que os principais detalhes das intrigas internacionais se passam mesmo no submundo desta guerra de informações, completamente à parte da mídia e do grande público.
Geralmente autores de best-sellers americanos acabam encontrando o seu nicho e ficam à vontade nele. Assim é Michael Crichton, com suas tramas envolvendo armas biológicas, John Grisham e seus romances jurídicos, Stephen King e suas histórias de terror. Dan Brown encontrou o seu também. Ele apostou nos códigos secretos, nas histórias que se escondem por trás das verdades incontestáveis e nos malabarismos que se fazem para decifrar estes códigos. Por trás disso tudo, uma boa trama, de preferência com uma história de amor, como neste livro, e a fórmula está feita. No caso dele, o toque de Midas que a grande maioria dos escritores busca e não consegue.
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