sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A LUTA INCESSANTE PELA JUSTIÇA


Nelson Mandela mostra um país em busca da igualdade racial

(Publicado no caderno “Tribuna Bis”, do jornal “Tribuna da Imprensa”, edição de seis de setembro de 1995)

A autobiografia “Longo Caminho Para a Liberdade” mostra que Nelson Mandela joga em um time muito especial. Do goleiro ao ponta-esquerda, há nomes de peso: Mahatma Ghandi, Mão Tse Tung, Fidel Castro...todos identificados por um fato comum. Por meios e caminhos diferentes, mudaram as histórias de seus países. Se a África do Sul ainda não é um paraíso racial (e qual país é?), já está bem distante do inferno que era há algumas décadas. E Nelson Mandela, sem dúvida, é um dos maiores responsáveis por isso.

“A bondade do homem é uma chama que pode ser apagada, mas nunca se extingue”. Pensamento tão fraterno – quem diria – nasceu de um homem com nome de encrenqueiro: Rolihlahla, recebido por Mandela no dialeto dos xhosa (tribo onde nasceu, em 1918).

Na escola, Rolihlala virou Nelson Mandela, pois as leis sul-africanas não reconheciam os nomes adotados pelas tribos. Ele próprio, aliás, diria a respeito dos costumes ancestrais pregados pela vida tribal, tão diferentes dos hábitos que iria adquirir depois: “Os homens seguem o caminho estabelecido para si pelos pais e as mulheres levam uma vida igual à que a mãe havia levado”. Com certeza, Mandela levou uma vida bem diferente da de seu pai, que era uma espécie de conselheiro e morreu quando Mandela tinha nove anos.

Toda a sua vida, que preenche as 507 páginas do livro, é narrada com riqueza de detalhes e de forma cronológica, sem perder o ritmo da história. E um detalhe. Seu texto poderia servir de inspiração a muitos historiadores, já que permeia a riqueza de dados com frases de efeito e muitas historinhas curiosas.

Numa delas, lembra quando estudava Direito por correspondência e trabalhava num escritório em Alexandra, próximo a Johannesburgo. Para economizar dinheiro, que andava curto, usou o mesmo terno durante cinco anos. No fim, como ele mesmo afirma, “havia mais remendos do que terno”.

Para trabalhar fora, Mandela fugiu de casa aos 18 anos, descontente com o rígido sistema de normas tribais, embora levasse uma vida relativamente tranqüila. Seu primeiro contato com o capitalismo opressor do país foi em Johannesburgo, quando conheceu as minas de Crown.

A presença de mão de obra barata, representada por milhares de negros submissos, atingiu Mandela em cheio. Os negros trabalhavam quase de graça, sem nenhum direito, e faziam a riqueza dos proprietários brancos das mineradoras. Tanta opressão resultaria na greve de 70 mil mineiros em 1946, o primeiro grande movimento organizado dos negros sul-africanos e acompanhado de perto por Mandela.

Um dos pontos mais interessantes do livro é o que trata da criação do tão famigerado apartheid – um vigoroso sistema opressor de leis e regulamentos racistas – pelo ultra-reacionário Partido Nacionalista, nas eleições gerais de 1948. Eleições entre aspas, é claro, já que os negros não votavam.

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